segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Gilberto Nazario Rodrigues

Gilberto Nazario Rodrigues, o Giba, foi cria de tio Alcides e eu o conheci quando fui a Cocaes há mais de 50 anos atrás. Depois disso vivíamos nos encontrando até o dia em que compramos a fazenda São Bento. Ele trabalhava lá e foi demitido pelo antigo proprietário e contratado por nós imediatamente e com ele veio o Luizão, um negão forte e muito trabalhador. Zé Mauro já tinha sido gerente de lá em épocas passadas e assumiu novamente quando comprei, de modo que não houve nenhuma dificuldade na transição de proprietários. Alguns meses depois contratamos outro velho, o seu Arlindo e fizemos uma equipe da terceira idade fora de série. Era uma turma super unida e apesar da liberdade total que existia em todos os níveis, todos se respeitavam muito. Era onde eu mais gostava de trabalhar o gado pois era só besteiras que falavam o tempo todo. O Giba não sabia trabalhar quieto e gostava de ver a reação do Zé Mauro para aquilo que ele falava, e os diálogos eram do tipo:
- E aí seu Zé, vai ter uma fria (cerveja) pra mim quando acabar aqui?
Ele já falava isso pois sabia que não podia beber na fazenda e queria gozar o Zé que era pão duro e a mim que introduzi a lei seca. O Zé respondia sempre a mesma coisa e era:
- Vou botar o meu ... na geladeira para você, pode deixar.
E todo mundo dava risadas.
Outras vezes o Giba vinha meio cansado e o Zé perguntava o que tinha acontecido. A resposta era sempre a mesma, que ele tinha dado uma agora cedo e o Zé retrucava:
- Larga disso Giba, você não dá mais no couro.
- O que seu Zé! É todo dia três.
Aí o Zé completava:
- Certo, 3 de Janeiro, 3 de fevereiro e assim por diante. Já entendi.
Todos caiam na risada e quem mais ria era o próprio Giba.
Ele era um cara fora de série. Quando tinha 68 anos apostava corrida com meus filhos e os do Zé Mauro, todos guris de 13 a 16 anos, e quando não ganhava chegava em segundo. E isso fumando dois maços de cigarro boliviano por dia. Era uma figura folclórica e todas as visitas que vinham a São Bento, algumas do exterior, se apaixonavam por ele. Chegaram a chamá-lo de crocodilo dandy e isso porque um dia saímos para passear de carro pelo campo e estávamos com uns médicos americanos em visita no pantanal pela primeira vez. Como estava tudo secando existia uma quantidade muito grande de jacarés saindo das áreas alagadas e indo para o rio. Numa dessas, acabamos por atropelar um bichão que ficou estirado no meio da estrada. Paramos para fotografá-lo e o Giba resolveu prestar os primeiros socorros ao jacaré, todos achando que ele estava morto. Quando o Giba ficou sobre ele e começou a fazer uma massagem cardíaca, os americanos foram tirando fotos e ele pegava as duas mãos do jacaré e fazia exercício aeróbico. O susto foi grande quando o jacaré saiu correndo, vivinho da silva. Foi aplaudido por todos e respondia com um "stop" incompreensível para os que o ovacionavam. Quando perguntei o que significava aquilo, ele me disse que era assim que eles o agradeciam quando ele ficava conversando com eles. Não tive coragem de dizer que estavam mandando ele parar de falar.
Em 2002, o Giba com 72 anos, fizemos a festa de fim de ano na fazenda Angico. A programação era um torneio de futebol antes do almoço que seria churrasco de chão com muita cerveja. Era o único dia que era permitido beber na fazenda. Quando acabou o jogo, o time do Giba perdeu. Ele estava sentado do meu lado no chão, eu estava de pé. Vi que ele deitou para trás e achei que era mais uma das muitas brincadeiras dele pela sua derrota e cheguei até a dar risadas. Quando prestei atenção vi que ele estava espumando e sua respiração vinha com um ronco terrível. Gritei para todo mundo e tinha um estudante de medicina que o socorreu. Avisou que ele estava enfartando e precisava ser removido para uma UTI o mais rápido possível. Saímos voando para a cidade, eu e acho que o Beto no carro da frente e o Daniel com o estudante de medicina e o Gilberto no carro de trás. Nunca corremos tanto na vida e chegamos em 30 minutos no hospital de Corumbá, apesar da fazenda estar a mais de 60 km. Quando levaram o Giba ele já estava morto. Morreu como sempre viveu, brincando. Foi a última festa de fim de ano que fizemos. Depois disso, inauguramos o ambulatório médico de São Bernardo, que leva o nome do Gilberto. Não tem ninguém que conviveu com ele e não tenha saudades. Foi um grande cara em toda sua simplicidade.

Um comentário:

  1. ROSA MARIA MARINHO CORREA DE BARROS18 de outubro de 2010 às 21:34

    AI TADEU Q/ SAUDADE DELE..... TDS DAQUI DE CASA ADORAVAM ELE. ERA UMA FIGURA MTO QUERIDA POR TDS NÓS. E D. HILDA TEM NOTICIAS DELA ? FALAM Q/ VASO RUIM NÃO QUEBRA. BJOS

    ResponderExcluir