segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Meu irmão

Existe pessoas de quem você gosta, outras que você ama e poucas que você ama de paixāo. Mulher, pais, filhos e netos, irmão e irmã são as normais desse último lote, mas meu relacionamento com meu irmão foge da curva completamente. Ele é daqueles amigos que você pode confiar sempre, não tem perigo de te criticar quando faz uma merda e seus conselhos são sempre para te fazer sentir melhor. Desde a época do picolé do seu Erminio, ele sempre foi o meu melhor amigo e fui um cara privilegiado quanto a amigos. Tive o Spadella, Timoteo, Gerson, Ricardo, Choulian e outros que encheriam essas páginas, fora as amigas. Não sei de onde vem essa ligação tão forte, talvez da época em que ele se queimou e achei que ele fosse morrer.

Talvez do dia que o Helio, filho do seu Ermínio bateu em mim e ele foi lá tomar satisfações, levou uma porrada no nariz e voltamos abraçados para casa com ele sangrando pra cacete.

Talvez da época em que me apaixonei pela namorada dele, a Sonia Ruas, e apesar de achar que nunca encontraria outra mulher igual, afinal eu já era um homem experiente com meus 13 anos e sabia que não existia alguém tão linda e simpática quanto ela, por sua causa, renunciei àquele "grande amor".

Talvez do dia em que ele me fez brigar com um cara da sua idade e como sabia que ia apanhar, aplicou o golpe de "para você meu irmão caçula basta", e quem entrou no pau fui eu.

Pode ter outros motivos, mas só um analista bom para saber e assim mesmo após muitas sessões. O que nunca vou me esquecer e acho que ele não sabe disso, foi da noite anterior a sua cirurgia. Ele ia fazer uma ponte mamária com 38 anos e isso há 25 anos, quando cirurgia cardíaca era coisa muito complicada. Estava dormindo com ele, não teve jeito de ficar um só, e eu com Lenir revezávamos a cama de acompanhante e a cadeira do quarto do Einstein. Estava na minha hora de dormir na cama e ele estava acordado conversando com Lenir. Acharam que eu estava dormindo e escutei quando ele falou a ela que confiasse em mim, sempre. Fiquei naquela responsabilidade, mas graças a Deus ela nunca precisou de mim.

Ele está firme e mais forte do que eu. Já passou por alguns pequenos problemas, como da vez que teve que tirar a vesícula. A Lenir estava em São Paulo e ele em Corumbá. Teve que ser operado as pressas e eu que fui de Corumbá para São Paulo com ele. Após a cirurgia, ele fumante inveterado, resolveu fumar no quarto. O enfermeiro quis dar-lhe uma puteada e ele argumentou que tinha operado a vesícula e não o pulmão, que não havia indicação médica para não fumar, como podia fazer cocô, o que não seria permitido se ele tivesse operado das hemorróidas, que poderia cantar o que não seria possível de tivesse operado da garganta. O enfermeiro disse que área de fumantes era no térreo e só para visitantes. Ele resolveu descer para a área de fumantes, empurrando o suporte do soro e com aquele jaleco ridículo que se descuidar fica com a bunda de fora e foi flagrado no elevador pelo mesmo enfermeiro. Quando perguntado aonde ia e respondido corretamente, o cara fez com que ele voltasse ao quarto. Aí ele injuriou de vez, chamou a enfermeira chefe e pediu que fechassem as suas contas, pois ele ia para outro hospital, que aquele era uma merda. A mulher ficou olhando para ele e tentando explicar que quem dava alta era o médico e não o paciente. Foi então que ele ameaçou não pagar as contas. Resolveram colocar outro enfermeiro para tomar conta dele, um meio alegrinho, que deixava ele abrir uma fresta na janela e fumar por ali. Ele sempre me fala que existe os argumentos certos para as pessoas certas.

Tontonio é um cara muito importante na minha vida. Somos sócios em quase tudo, escapou só as mulheres e as escovas de dente. Quando papai resolveu dividir as coisas dele em vida, colocou as três partes dos três filhos em três envelopes e escrito o nome de cada um nos mesmos. Nós já éramos sócios em várias coisas e comprávamos tudo meio a meio. Cada um com seu envelope na mão, sem que ninguém falasse nada, abrimos os dois e misturamos tudo e escrituramos todos do mesmo jeito que vínhamos comprando nossas trainhas, meio a meio. Ele é um cara tremendamente carismático e todos que convivem com ele se apaixonam. Eu já trouxe amigos de longa data para Corumbá e que após três dias aqui, saíram tão ou mais amigo dele do que meu.

É um baita de um irmão e sei que posso contar sempre com ele e em qualquer situação apesar de, às vezes, eu pisar na bola com ele. A sorte é que ele sabe que é, hoje, o único homem, fora meus filhos, que eu posso falar que amo muito.

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