quinta-feira, 14 de abril de 2011

Busca do médico

Devia ser quase duas horas da manhã quando papai entrou no meu quarto e me acordou. Primeiro achei que estava na hora de ir para escola quando percebi que estava em Corumbá e eu estudava no Arquidiocesano de São Paulo. Depois que vi as horas que fui me assustar, e grande. O que poderia fazer papai me acordar a essas horas? Quando sintonizei o cérebro ele me falou:

- Pegue as chaves do meu carro e vai buscar o Dr Fadah para sua mãe que ela não está bem. Vai rápido, mas sem fazer loucuras.

Eu tinha 15 anos, dirigia desde os 12 e corria muito sem motivos. Agora com motivo eu voava. Ele tinha um aero willys e sai do jeito que estava, nem tirei o pijama, e desembestado como se a vida de mamãe dependesse do tempo que eu demoraria a voltar. Parei na casa do médico e fui com uma mão na campainha e a outra esmurrando a porta, continuamente, até ele abrir. Ai aconteceu uma cena inesquecível e muito engraçada. O Dr Fadah, recém acordado e com o cabelo completamente desgadanhado, me abre a porta e quando olha para mim, quase cai duro de susto, perguntando:

- Que porra é essa? Quem é você?

Não entendi a pergunta porque ele era médico da família, inclusive meu, a mais tempo que eu podia me lembrar. Respondi:

- Tadeu doutor e Mamãe esta morrendo. Papai pediu para você correr lá.

- E que merda é essa na sua cara?

Aí que eu lembrei que toda noite, por causa das espinhas dos quinze anos, eu passava Minancora, uma pomada branca, em todo o rosto. Enquanto ele foi pegar sua maleta para ir para casa eu me vi no espelho de sua sala e imaginei que, por pouco, muito pouco, pouco mesmo, não o enfartei, pois era o próprio cão chupando manga. O cabelo todo despenteado e, a cara toda branca, só os olhos de fora. Voltamos voando, derrapando em todas as curvas, e o Dr. Fadah resmungando muito. Chegamos em casa com mamãe já bem, a minha vontade era falar para ela fingir que estava mal ou o cara ia me rufar. Após examinar a velha e ver que estava tudo em ordem, ele virou para papai e falou:

-Agora você me leve para casa que com o fantasminha aí..., nunca mais.

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